Silvio Bergamini
Em Santos a Società Italiana existe até hoje assim como o Patronato, ligado ao Consulado Geral da Itália
Il Risveglio, jornal anarquista italiano, em 6 de fevereiro de 1898, publicou sob o título “Cos’è la Pátria?”, “Assim como as delícias da vida eterna, que os feudatários e eclesiásticos ofereciam a seus vassalos como prêmio pelas privações e misérias da vida terrena, a pátria é o paraíso com que os aproveitadores burgueses compensam os explorados do povo”. Esta afirmação é anarquista e revela que não era somente a localização geográfica, língua ou dialeto que separavam os italianos que chegavam ao Brasil. Colonos, muitos deles miseráveis, obedeciam a rotinas sob o controle de capacidades empresariais destacadas economicamente. Muitos, fazendeiros. A denúncia anarquista ecoava forte.
A atração de europeus para o Brasil começou com o decreto de 25 de novembro de 1808, de autoria de D. João VI. O decreto permitia aos estrangeiros o acesso à propriedade da terra. Não eram somente de algumas nacionalidades e os italianos ainda não estavam sob a ótica da prioridade. Isso aconteceria somente nos meados do império sob Dom Pedro II, quando as condições operacionais foram finalmente acordadas tanto pela Itália, ainda não unida em toda a península, e o Brasil.
Não havia da parte do governo brasileiro apoio aos que chegavam. Atender a uma política demográfica, como era a interesse desde os tempos de D. João VI, não coincidiu com a postura dos fazendeiros cuja intenção era a substituição aos escravos. E os colonos não foram atendidos em suas demandas. O povoamento de áreas rurais com italianos, principalmente, mostrou-se ineficiente. Não houve aumento de pessoas nas regiões de imigração como esperado.
Em 21 de março de 1885, a Assembléia Provincial Paulista autorizou a construção de uma hospedaria para substituir a anterior, inadequada em capacidade e localização. O novo estabelecimento estava então no encontro das estradas de ferro que chegavam à cidade de São Paulo.
Imigrantes na Hospedaria de São Paulo
A hospedaria tornou-se o ponto focal do programa de imigração de São Paulo. Embora seja certo que constituíam o maior grupo de uma única nacionalidade, os italianos representaram 46% de todos os imigrantes no período de 1887 a 1930. Durante a extinção do trabalho escravo e o surto cafeeiro, os italianos na verdade predominaram, representando 73% de todos os chegados de 1887 a 1900.
Ao longo dos anos muitas associações e patronatos foram criados, não só em São Paulo. Muitos não tinham nenhuma ligação oficial com o governo italiano. Duraram pouco, com poucos sócios. E algumas dessas entidades se prestaram a golpes contra os próprios italianos. Um exemplo era a passagem de repatriação dos italianos, paga pelos governos do Brasil e Itália. Os pedidos das passagens eram expedidos mas nunca os interessados as recebiam. Eram vendidas a agências de viagens que as vendiam por preço maior do que aquele pago oficialmente. Cerca de 58% dos imigrantes naquele período foram subsidiados pelo Estado. A imigração para São Paulo representou sozinha, 56% dos 4.100.000 imigrantes, inclusive não italianos, que entraram no Brasil de 1886 a 1934.
A data de fundação da Società Italiana di Santos aceita hoje é 22 de agosto de 1897. Italianos estabelecidos na cidade e com estabilidade econômica, coordenados por Paolo Santucci e formado por Silvério Maimone, Domingos Spinelli, Antonio Aulicino, Emilio Christiani, Carlos Usiglio e C. Fiorani, afiliaram mais mais de cem italianos. A entidade ficava na antiga rua do Rosário, 122, hoje rua João Pessoa.
O primeiro presidente foi Silvério Maiomone. Sob sua presidência foram estabelecidas prioridades para a Società. A aproximação entre os italianos, uma escola primária onde se ensinava português, inclusive com reconhecimento oficial. Eventos e recepções a autoridades, visitantes e militares da Itália sempre foram frequentes. De uma forma totalmente diferente, pela falta de ligação ao campo ou à lavoura, a Societá não só existe ativa até hoje, deixando de funcionar durante o período da II Guerra Mundial, quando o Brasil declarou guerra aos países do Eixo, Alemanha, Itália Fascista e Japão.