O genovês Lorenzo Massa produziu alguns dos primeiro monumentos públicos da cidade, como o de Braz Cubas (1908) e Bartolomeu de Gusmão (1922)
Giany Gonze Tellini
Em meados do século XIX e início do século XX, Santos passou por uma intensa transformação urbana, onde a modernidade se traduziria, entre outros indicadores, em novos espaços e usos, com bulevares, praças, parques e jardins ornados com esculturas, principalmente por obras de artistas italianos.
Foi nesse contexto que em 26 de janeiro de 1908 inaugurou-se a primeira estátua da cidade, não por acaso, o monumento em homenagem a Braz Cubas, encomendado ao escultor genovês Lorenzo Mazza em 1906 e executado em seu ateliê em Genova. A obra foi enviada ao Brasil desmontada a bordo do vapor Attività, para ser finalizada “in loco”. Realizado em grande parte em mármore branco de Carrara, o monumento tem 8 metros de altura no total, contando a base, o pedestal e a escultura de Braz Cubas e 4,80 metros de largura. A escultura do fundador da Vila de Santos, de corpo inteiro e em trajes de fidalgo cavaleiro do século XVI tem 2,50 metros de altura. Taz em sua mão esquerda um bastão de nobreza e na direita, um rolo de pergaminho com a carta topográfica da Vila de Santos, tal como era em 1545.
Lorenzo Mazza também foi o artista responsável pela execução de outras obras urbanas de Santos, como o busto do abolicionista, poeta e jornalista Joaquim Xavier da Silveira (1914) e os monumentos a Bartolomeu Lourenço de Gusmão (1922) e dos Fundadores da Companhia Docas de Santos (1934).
Um outro italiano é o autor de uma escultura bem conhecida dos santistas: “O Pescador” (foto da época em que ele estava na divisa Santos-São Vicente, entre os anos 1960 e 190), atirando a tarrafa, que por tantos anos ocupou o canteiro central próximo ao embarque das balsas Santos-Guarujá. A obra, inaugurada em 1941, é do escultor Ricardo Cipicchia, que nasceu em Roma, mas transferiu-se com a família para o Brasil em 1885, quando tinha apenas dois anos. Em São Paulo, estudou no Liceu de Artes e Ofício e trabalhou como entalhador, criando esculturas em jacarandá e cedro sobre temas populares e lendas. Lecionou na Escola de Belas Artes de São Paulo, cidade que tem várias de suas obras, como o conhecido “Porco Ensebado” no Parque Ibirapuera.
Vicente de Carvalho e Padre Anchieta, duas obras de arte assinada por Gaetano Fraccaroli
Gaetano Fraccaroli nasceu em Verona em 1911, cidade em que iniciou os seus estudos na Escola de Belas Artes. Chegou ao Brasil em 1929 e fixou-se em Santos. Fraccaroli foi aluno de Hélio Giusti e em 1939 iniciou a carreira docente. Em São Paulo, foi professor na Escola Técnica Getúlio Vargas, na Escola Politécnica e na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Fraccaroli participou de bienais no Museu de Arte Moderna de São Paulo e nos salões paulistas de Belas Artes. Suas obras ocupam vários espaços públicos em São Paulo e também em Santos. São de sua autoria o busto de Martins Fontes (1941), as estátuas de Vicente de Carvalho (1946), do Atleta Náutico Santista (1946), de João Octavio dos Santos (1960), do Padre José de Anchieta (1961) e de Saturnino de Brito (1969). Também é de sua autoria o Mausoléu do Esportista Amador (1964), no Cemitério da Filosofia, no Largo da Saudade, Saboó.
A Imagem de Nossa Senhora de Fátima (1951), que se encontra na praça que traz o mesmo nome da santa, junto ao Armazém 7 da Codesp, no Macuco, é de autoria do italiano Heitor Usai, nascido em Sassari em 1899. Ele chegou ao Brasil aos 28 anos, participou de diversas exposições no Salão Nacional de Belas Artes, foi membro da Academia Brasileira de Belas Artes e é autor do Monumento a Anchieta (1957) em homenagem ao IV Centenário de São Paulo. Também são de sua autoria diversas obras funerárias, como a de Carmem Miranda e de Ari Barroso, ambas no Cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro.
Monumento “Filhos de Bandeirantes”, de Angelo Del Debbio (foto: Gilmar Oliveira)
Por fim, Antelo del Debbio, nascido em 1901 em Viareggio, província de Lucca, é o autor do monumento Filhos de Bandeirantes (1956). Del Debbio destacou-se na arte cemiterial e diversas de suas obras foram tombadas pelo Condephaat no Cemitério da Consolação, em São Paulo.
Estas obras, espalhadas pela cidade e tão familiares ao nosso cotidiano, são uma forte evidência do quanto a presença italiana permeia o dia a dia da cidade, ainda que não as reconheçamos. O momento festivo dos 150 anos de imigração italiana no Brasil torna-se perfeito para o resgate das memórias e da participação italiana na nossa história.
Fontes:
Lanna, Ana Lucia Duarte – Uma cidade na Transição. Santos; 1870-1913. Editora Hucitec, Prefeitura Municipal de Santos, 1996.
Monteiro, Maria Inah Rangel e Silva, Rosangela Batista Vieira de Menezes – Esculturas Urbanas: monumentos selecionados. Instituto Cultural de Artes Cênicas do Estado de São Paulo, 2008.