Rede mundial de comunicações. Telégrafo italiano liga Santos e Brasil ao mundo

A empresa Cia. Italiana dei Cavi Telegrafici Sottomarini, ou resumidamente, ITALCABLE, foi um serviço de comunicação telegráfica com escritório em Santos. Pertencia a uma rede quase planetária de cabos submarinos e escritórios técnicos em vários países Latino Americanos, Europeus e Norte Americanos.  Com apoio do primeiro ministro italiano Benito Mussolini, recebendo inclusive ajuda material governamental, o engenheiro eletrotécnico Giovani Carosio amealhou verbas junto à comunidade italiana na Argentina, inaugurando seu empreendimento em 9 de agosto de 1921. Carosio garantiu que a Italcable iniciasse negociações com Espanha, Portugal, Brasil e Argentina. Logo instalaria cabos submarinos para atender a demanda de comunicação de todos esses países.

De Roma a Málaga na Espanha Foi o primeiro cabo da ITALCABLE, instalado em 1924. No ano seguinte com um cabo submarino alongou-se em mais de 13 mil quilometros em direção da América do Sul. Las Palmas, nas Ilhas Canárias. São Vicente, em Cabo Verde. Fernando de Noronha, no Brasil, Rio de Janeiro, também no Brasil. Montevidéu no Uruguai. Buenos Aires, na Argentina. Inaugurou-se a comunicação entre a Itália e a América Latina.

 

A tecnologia

O telégrafo é o envio de mensagens usando sinais elétricos. Uma das maiores invenções e transformou a comunicação antes do telefone. Desde suas primeiras experiências, em 1747, até o surgimento do Código Morse, em 1844. Foi inventado em 1792 por Claude Chappe. Diferente do sistema elérico, usava sinais de luz.  (1)

O primeiro telégrafo moderno foi óptico, sem uso de registro escrito, produto da Revolução Francesa. Este não tem nada a ver com seu sucessor mais famoso, o telégrafo elétrico. Esse, então, a invenção independente de Samuel Morse e seu assistente Alfred Vail, patenteada em 1837, viria para ficar. E nasceu então a primeira rede mundial de comunicação.

No Brasil foi instalado pela primeira vez em 11 de maio de 1852, numa linha de transmissão entre a Quinta Imperial e o Quartel do Campo, no Rio de Janeiro. Mas a falta de tecnologia e profissionais gabaritados para exercer as funções do serviço atrasaram a implantação brasileira. Como em muitos setores públicos, foram os ingleses os maiores interessados em explorar no Brasil o serviço telegráfico. Assim, em 1873, na capital imperial, intalou-se  a The Western and Brazilian Telegraph Company Ld.. O escritório central da empresa  ficava em Londres e logo instalou postes e fios por todo o país, assim como cabos submarinos para lugares como o Cabo Verde, Portugal, Argentina e Uruguai.

 

Estação da Italcable em Santos, ao lado da Associação Comercial, na Rua XV de Novembro

Os italianos chegam a Santos

A Italcable chegou a Santos juntamente com o término da instalação dos cabos submarinos entre Europa e América do Sul, ainda na década de 1920. Seu escritório ficava na Rua XV de Novembro, 131/133. Em 1931, a Italcable já desenvolvida, possuía cerca de 22 mil quilômetros de cabos submarinos e mais de 8 mil quilômetros de cabos terrestres, entre as quais a linha Rio de Janeiro -São Paulo.

Com e eclosão da II Guerra Mundial a Italcable sofreu, em 20 de Julho de 1942, intervenção federal brasileira. Em 7 de março de 1946, de acordo com o Decreto Lei 9.044, a empresa seria incorporada ao Departamento de Correios e Telégrafos do Brasil.

 

As mensagens, a saudade amenizada  e o comércio

Uma das grandes conquistas do telégrafo era a velocidade de transmissão de notícias aos destinatários. As grandes distâncias entre o Brasil e países europeus, notadamente a Itália, deixaram as novidades mais acessíveis. Emoções na forma de código morse cruzavam o oceano Atlântico quase à velocidade da luz. Nascimentos, casamentos,  batizados, felicitações. Ninguém mais passaria meses ou anos sem saber o que estava acontecendo com seus entes queridos.

No comércio internacional, e daí a importância da Italcable em Santos, cargas, datas, produtos oferecidos não dependiam somente de viagens, dias de negociações, incertezas para atrapalhar a logística na chegada de cargas.

Um texto convertido em pontos e traços e decodificados no destino garantiam muitas vezes a diferença entre maior ou menor lucro, a chegada ou não de um navio a seu destino no prazo certo.

(1)https://www.unicamp.br/unicamp/ju/artigos/peter-schulz/quem-inventou-o-telegrafo-esquerda-direita-direita-direita-esquerda-direita

Mais uma imagem da Italcable em Santos, na Rua XV, década de 1930.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *